sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Milão: A Última Ceia

16/12/2016 - Parte 1

Cenacolo Vinciano: obra-prima de Leonardo da Vinci 

Milão não estava nos nossos planos de viagem originais. A ideia era visitarmos apenas Roma, Florença e Veneza, nessa ordem. Quando eu estava pesquisando as passagens, consegui uma tarifa promocional para Milão. Refiz os planos, mudei a ordem das cidades e incluí Milão no roteiro. E já que chegaríamos por lá, reservei 2 dias para ver o básico da cidade. Só o básico mesmo, a cidade é linda, tem muitas atrações, e pretendo voltar um dia para visitá-la com mais calma.

Se eu tivesse que escolher uma única atração para visitar em Milão, essa atração seria o Cenacolo Vinciano (A Última Ceia). Por isso, uma vez marcada a passagem, tratei logo de tentar comprar os ingressos para visitar essa obra. Essa saga está contada em detalhes nesse post.

Finalmente o grande dia havia chegado. Nossa visita estava marcada para 10:30h. Acordamos às 08:30h, tomamos café da manhã no hotel e pegamos o metrô na Milano Centrale (linha verde) até a estação Cadorna, utilizando nossos bilhetes de 24h que ainda estavam válidos. De lá, seguimos a pé até a Basilica di Santa Maria delle Grazie, onde se encontra o Cenacolo Vinciano.


Basilica di Santa Maria delle Grazie

A entrada para visitar a obra de Da Vinci fica nessa parede lateral amarela.

Foto: legraziemilano.it

O Cenacolo Vinciano é um mural que foi pintado por Leonardo da Vinci em uma das paredes do refeitório do convento de Santa Maria delle Grazie, a pedido do duque Ludovico Sforza. A obra foi concluída em 1498, mede 4,6 x 8,8m e é considerada uma das maiores obras-primas de Leonardo e do renascimento italiano em geral.

A sala onde está localizada, projetada por Pietro Maschera, é retangular e tem um teto elaborado, constituído de várias abóbadas, originalmente decoradas com afrescos. Dentro da sala são permitidas apenas fotos sem flash.


As lunetas formadas pela interseção das abóbadas são decoradas com afrescos representando o brasão de armas dos Sforza.


A pintura retrata o momento logo após Jesus dizer aos apóstolos que um deles iria traí-lo, e mostra a reação de cada um a essa revelação.


Foram encontrados vários estudos de Leonardo feitos como preparação para essa obra. Ele fez a pintura de maneira que em destaque ficasse a figura de Jesus, que está com a bochecha direita localizada no ponto de fuga de todas as linhas e as mãos localizadas na metade da altura  da composição. Além disso, o uso da luz e da perspectiva dá a sensação de que a sala se prolonga até as 3 janelinhas localizadas no centro da pintura.


Na parede oposta à do Cenacolo, encontra-se a obra Crucificação, um afresco do milanês Giovanni da Montorfano, datado de 1495. Leonardo acrescentou imagens de membros da família Sforza nos cantos desse mural, usando a mesma técnica seca que usara para fazer o Cenacolo, o que causou a sua completa deterioração. 

A obra do milanês sofre do mesmo mal que Nozze di Cana (As Bodas de Caná), de Paolo Veronesi. Ambas estão instaladas na mesma sala de uma obra-prima de Leonardo da Vinci, e o público não lhes dá a devida atenção. O quadro Nozze di Cana encontra-se no Louvre, na mesma sala em que está a Mona Lisa.


Infelizmente, o Cenacolo Vinciano enfrentou vários problemas ao longo da sua existência. O primeiro deles vem desde a época da sua criação. Leonardo da Vinci não gostava da técnica do afresco, onde a obra é realizada sobre gesso molhado, exigindo maior velocidade de execução, antes que o gesso seque, o que não possibilita a modificação da obra enquanto o artista trabalha, como ele gostava de fazer. Além disso, ele buscava uma técnica que pudesse conferir maior detalhe e luminosidade ao resultado.

Então, Leonardo decidiu usar uma técnica experimental, que consistia em selar a parede de pedra com uma camada dupla de gesso seco, antes de iniciar a pintura, usando uma mistura de pigmentos coloridos com gema de ovo e uma camada de chumbo branco para fazer os efeitos de iluminação.

Essa técnica permitiu a riqueza de detalhes da pintura, mas foi a origem dos problemas de conservação. Logo a técnica mostrou-se incompatível com a umidade do ambiente, que fazia divisa com a cozinha do convento, e a tinta não aderiu adequadamente à parede. Antes mesmo que a pintura estivesse concluída, começou a se deteriorar. Em 1517 começou a desmoronar, e em 1556, menos de 60 anos depois de concluída, Giorgio Vasari escreveu que a pintura estava arruinada.

Em 1652, a pintura estava totalmente irreconhecível, e um padre resolveu abrir uma porta nessa parede, bem no local onde estavam os pés de Jesus. Hoje há uma parede rebocada no local onde foi aberta a porta.


Em 1796, durante a primeira campanha de Napoleão na Itália, o exército francês usou o refeitório como estábulo. Os soldados apedrejaram o mural e subiram em escadas para riscar os olhos dos apóstolos.

Durante a II Guerra Mundial, Milão sofreu muitos bombardeios por parte das forças aliadas. Se no início os bombardeios eram dirigidos a instalações militares, com o passar do tempo passaram a ter como alvo os principais patrimônios artísticos e históricos da cidade. A Basilica di Santa Maria delle Grazie, um dos alvos do bombardeio ocorrido em 15 de agosto de 1943, foi bastante destruída.


Restaram de pé justamente as paredes onde estavam os murais de Da Vinci e de Giovanni da Montorfano, por terem sido escoradas e protegidas por sacos de areia.




Embora a proteção tenha impedido que a pintura fosse atingida pelos estilhaços das bombas, acredita-se que esta tenha sido ainda mais danificada pela vibração das explosões.

As muitas tentativas desastradas de restauração, que ocorreram desde o século XVIII, acabaram por contribuir com a deterioração da obra.

Finalmente, em 1978, foi iniciado um grande projeto de restauração que durou 21 anos e utilizou as mais avançadas técnicas do setor. Atualmente o mural encontra-se num ambiente mais controlado, selado e com climatização adequada. Ainda assim é possível verificar os efeitos da deterioração acumulada.



Após exatos 15 minutos, fomos expulsos da sala, para que o próximo grupo pudesse entrar.

O interior da basílica, com sua nave em estilo gótico e cúpula renascentista atribuída a Bramante, deve valer a visita. Infelizmente estávamos com pouco tempo, e tivemos que deixar para outra oportunidade.

Seguimos à pé até o ponto localizado na Via Giosué Carducci, e pegamos o ônibus 94, ainda usando os mesmos bilhetes de 24h, rumo às Colonne di San Lorenzo, nossa próxima parada, que você confere na segunda parte desse post.


FOTOS: Aloísio Dourado

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